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Finalmente, após uma hibernação
de cerca de um ano e meio, a Orbis - Ciência, Cultura, Humanidades
retorna ao convívio de seu aconchegante círculo de leitores.
Nossas primeiras palavras são um sincero pedido de desculpas por
este injustificável atraso. Afinal, mesmo considerando que esta
publicação eletrônica jamais cultivou a pretensão
de ser uma revista de atualidades, nada pode justificar um lapso tão
grande na edição de um órgão pretensamente
quadrimestral. Perplexidades várias, má administração
do tempo e dificuldades no empreendimento solitário da função
de editor são fatores que podem ser arrolados em um esclarecimento
autocrítico dos motivos que propiciaram a interrupção
deste diálogo que ora se reabre. Porém, cremos que o melhor
pedido de desculpas é a retomada da publicação regular
deste veículo de idéias, produção acadêmica,
questionamentos e inquietações.
Desde a publicação de nosso número três, transcorreu
todo o ano de 2001 e seu calendário repleto de eventos expressivos.
Se no mês de março celebraram-se os 130 anos do "assalto
aos céus" pelos comunardos parisienses de 1871 - tema abordado
com inquestionável propriedade por Mauro Castelo Branco de Moura
em um curto, mas rico artigo publicado neste número - em setembro
o mundo presenciou, em tempo real, os céus de Nova Iorque em chamas
durante o atentado contra o World Trade Center. Tal acontecimento, pela
sua significação política e histórica, não
poderia deixar de ser abordado nas páginas da Orbis, por isso a
edição atual traz dois textos de avaliação
publicados imediatamente após os atentados, através dos
quais procuramos avaliar suas implicações para o desenvolvimento
posterior das relações internacionais. Uma época
de suspense e medo como a atual parece convidar à leitura de dois
outros textos aqui veiculados: a análise de A morte em Veneza de
Thomas Mann por Luiz Elias Sanchez e o ensaio de Isabel Machado "Daniel
Dafoe, seus contos de Fantasmas e o Horror Sobrenatural na Literatura
de seu tempo". É também momento para detidas reflexões
e exercícios do pensamento para os quais a filosofia sempre emprestou
sua indispensável contribuição. Convém, por
isso, ler com atenção o texto de José Crisóstomo
de Souza, titular de Filosofia da UFBA intitulado "O que pode ser
a filosofia entre nós ou: a filosofia como coisa civil".
A crise de nosso tempo é, em termos geográficos, bifrontal,
ocorre tanto na esfera internacional quanto na nacional. Exemplo e manifestação
da mesma é a intensificação das contradições
econômicas e sociais em nosso país. Fenômenos que se
materializam na agudização das lutas pela terra, na escalada
da violência urbana, nos esforços de organização
de diversas categorias profissionais, nas greves de trabalhadores. Aldrin
Castellucci, professor de História do Brasil na UEFS, nos relata
um capitulo da luta dos trabalhadores baianos do início de século
XX pela sua organização no contexto de uma sociedade marcada
pela vigência do poder oligárquico. Ana Alice Alcântara,
cientista política e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar
de Estudos sobre a Mulher da UFBA e Hélida Conceição,
graduanda em História pela mesma Universidade, nos informam sobre
o papel desempenhado pelas mulheres na greve dos professores municipais
de 1918 em Salvador.
O carnaval e outras manifestações da cultura popular são
tematizados em dois importantes ensaios: O de Milton Moura, professor
do departamento de Sociologia da UFBA, traça "Um mapa político
do carnaval", tendo como campo de análise a folia soteropolitana.
Antonio Teixeira de Barros, professor do curso de Comunicação
Social da UNICEUB de Brasília discorre sobre as "Tendências
da mídia impressa na cobertura de manifestações folclóricas",
através da análise dos suplementos de turismo dos jornais
brasileiros.
Esperamos que a demora na circulação da Orbis 4 seja parcialmente
compensada com a qualidade do material que oferecemos aqui aos nossos
leitores. Desejamos também que as inovações desta
edição - domínio próprio, nova apresentação
gráfica - também se adeqüem a estas expectativas. Esta
editoria apreciaria imensamente o envio de impressões, comentários,
críticas, propostas, enfim, tudo aquilo que concretize uma relação
interativa entre nós que lemos e fazemos esta revista eletrônica.
Um forte abraço e até breve.
Muniz Ferreira
Editor
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